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"Mamãe acendia velas e rezava. Cantava, costurava, desenhava e me deixava brincar sozinha debaixo da cama, onde eu tinha uma coleção de animais imaginários à minha disposição, um exército composto por todo tipo de criaturas. Eu estava na minha caverna, a entrada protegida por uma naja. Outras cobras lideravam o ataque, os tigres me obedeciam, os lobos me seguiam, o elefante me punha no dorso com a tromba e as aves de rapina traçavam círculos no céu. Eu brincava de "guerrinha" por horas a fio e, se mamãe, com um sorriso estampado no rosto, vinha ver o que a filha estava fazendo, eu dizia:
- Não me atrapalhe, mamãe. Estou brincando!
Não queria que ela me ouvisse contando histórias ou falando com os animais. Eu era poderosa. Comandava minhas tropas num mundo fictício totalmente real pra mim. Minha guerra era muito séria e eficiente: o inimigo desaparecia como num passe de mágica."


Sobrevivendo com lobos, Misha Defonseca

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